Pela Estrada, Para o Vilarejo

PELA ESTRADA, PARA O VILAREJO

Passos cansados porém contínuos, um a um, compasso inalterado, o cão já estava acostumado e seguia no mesmo ritmo, chegar o mais brevemente não era uma prioridade, nada de novo era esperado. 

De repente Diógenes se deparou com um momento de tensão que encerrou com a monotonia nostálgica e relaxante. 

Dois aldeões agressivamente acossando uma garota, sua política natural seria a de não intervir, chagara à cena naquele momento e não tinha melhor leitura do desencadeara tudo aquilo. Sobretudo considerando tudo o que ele experimentou antes de começar a transitar por aquela estrada. Mas nunca temos certeza de tudo, e costumamos agir conforme o que conseguimos apreender.

- Alto lá senhores! O que está acontecendo aqui!

Cérbero já rosnava impaciente mas permanecia inerte esperando o desfecho.

- Não se intrometa! Ela nós roubou!

Gritou um dos homens.

- Nada roubei! Peguei um saco de maças deixado exposto, procurei ao redor para saber se pertencia alguém e não vi qualquer pessoa. Sentei-me calmamente à beira daquele lago, depois que terminei de comê-las estes senhores surgiram de repente sabe-se lá de onde esbravejando furiosos. Estava faminta, há um dia inteiro sem uma refeição...

- Senhores acredito que posso resolver o problema. Tenho comigo algumas provisões. Gostariam deste cesto de figos para selar a discussão?

Os homens se entreolharam viram que fosse qual fosse o real motivo de tudo aquilo já não eram mais cômodo que procedessem como estavam. Aceitaram a oferta e partiram.

A garota agradeceu ao viajante e tomou rumo diverso ao dos sujeitos que a estavam acossando.

Diógenes retomou os seus passos, Cérbero se arrefeceu e recobrou o ritmo da caminhada em direção ao vilarejo mais próximo em busca de mantimentos para continuarem em sua jornada.

Já era possível enxergar a estrutura de algumas casas em uma vila, para chegar lá faltava apenas traspassar um pequeno bosque. Alguns chilrados estranhos foram ouvidos, pássaros incomuns para aquela região. O mastim eriçou seus pelos flamejantes, Diógenes conseguiu ler claramente os sinais, uma emboscada.

Mantos e capuzes pretos se precipitaram das árvores, cravos negros voavam em direção ao peregrino, infelizmente eram muitos e alguns acertaram o alvo. Cérbero entrou em frenesi superaquecendo. Isso foi crucial para repelir o ataque. 

Diógenes se concentrou e checar a gravidades dos danos. Ficou aliviado em saber que apesar das aparências desanimadoras os ferimentos não eram fatais, notou ainda alguns itens faltando em sua mochila. Enquanto isso Cérbero circundava-o atento a qualquer outro possível ataque.

Restava agora aos dois encontrarem um lugar provisório mais seguro para o andarilho concluir a sua recuperação. Enquanto caminhava Diógenes aprisionava a ira em sua manopla esquerda, que por vezes cintilava, um a manopla azul cobalto com a forma de uma garra de dragão.

Finalmente encontraram uma cavidade numa parede de rochas, o lugar parecia propício para reduzir a exposição à ataques, e lá eles se alojaram.

Prontamente Diógenes acendeu uma fogueira ao longe, pouco distante do lugar exato onde eles próprios ficariam, contudo em um ponto que conseguiam ver claramente do local onde eles se estabeleceriam.

No recosto do monte Diógenes iniciou sua recuperação, malgrado estive relativamente tranquilo quanto à letalidade de suas feridas, aquilo era absurdamente doloroso e desagradável. Removeu um espinho incrustado em sua clavícula direita, outro em seu peito esquerdo, um mais profundo em sua costela esquerda, outro mais superficial na região do fêmur esquerdo e um último no calcanhar direito.

O veneno tinha um aspecto estranho, sabor desagradável, ao evaporar também revelava um cheiro desagradável. Apesar do aspecto horrível a situação já inspirava um maior alívio.

Subitamente Cérbero se retraiu e escondeu-se atrás de Diógenes em busca de refúgio, o mastim já conhecia bem a figura que se aproximava, a luz do lugar foi completamente absorvida, a mão esquerda lhe ofereceu os cravos ensanguentados. Num lampejo o ambiente retomou sua forma. Cérbero se acalmou.

Diógenes esgotado pediu ao cão que cuidasse das coisas ali por um tempo pois ele próprio precisava de dormir.

Na manhã seguinte se puseram na estrada com a resolução de seguir mais à frente e evitar o vilarejo inicialmente divisado.

Em certo trecho uma cena chocante, mas infelizmente conhecida, marionetes estilhaçadas, a corrupção enegrecida vertia de seus orifícios, cheiro de putrefação, três dos exemplares eram familiares, a mulher e os dois homens que estavam brigando por causa da maças. Todos trajavam as mesmas vestes, capuzes e mantos negros.

Lastimável, por mais que fossem marionetes e que o manipuladores não estivessem ali, a conexão foi inevitável, e os primeiros acabaram pavimentando o caminho até os últimos e a sobrecarga na trilha de rastreio se revelou forte demais.

Diógenes olha para Cérbero e diz:

- Resta-nos caminhar e seguir em frente.

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